Ocupação no CAp UERJ mostra engajamento dos estudantes


       Referência na educação pública fluminense desde 1957, o Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira (CAp), localizado no Rio Comprido, possui cerca de 1.100 alunos da educação básica, desde o 1º ano do Ensino Fundamental até o 3º ano do Ensino Médio. O CAp é a unidade de ensino da UERJ que vem conduzindo a paralisação dos segmentos acadêmicos de uma forma diferenciada. Há pouco mais de 45 dias, estudantes dos ensinos fundamental e médio decidiram, após deliberação em assembleia, ocupar a escola como forma de chamar a atenção das autoridades para os diversos problemas existentes.

 

 

     Mesmo com o movimento grevista, deflagrado oficialmente no início de março, estudantes e professores do último ano do Ensino Médio optaram por manter a rotina de aulas, totalmente focados na preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e para o Vestibular Estadual 2017 da UERJ. Mas esse desafio também não está sendo um empecilho para o planejamento e para a execução de atividades da ocupação.

 

 

     Para facilitar o gerenciamento das ações, foram estabelecidas, após discussão coletiva, regras cotidianas de convivência e de utilização dos espaços comuns como banheiros, cozinha, refeitório, corredores, quadra e salas. Divididos em comissões, determinados grupos ficam responsáveis pela limpeza, segurança, promoção de atividades e eventos, alimentação, comunicação com os públicos interno e externo, arrecadação de donativos, entre outras atribuições.

 

 

       No dia a dia, a plena integração e a convivência entre os ocupantes facilitam o desenvolvimento dos trabalhos. Todas as quintas-feiras são realizadas assembleias internas para discutir a realização conjunta de atividades extracurriculares, informes e novas estratégias de mobilização e de divulgação da pauta de reivindicações. Uma delas é a segunda edição do Festival Ocupa Rock, em apoio ao movimento de ocupação nas escolas estaduais. Ao todo, serão realizados shows de 18 bandas nos dias 9 e 10 de julho, sempre a partir do meio dia. A entrada será um quilo de alimento (preferencialmente carnes, pão de forma, milho, legumes, frutas e leite) e um agasalho. Paralelamente, estudantes, pais e ex-alunos já estão organizando a tradicional festa julina do Instituto, prevista para 30 de julho.

 

      Considerada inédita na história do colégio, a ocupação conta com apoio dos docentes, dos técnicos, da direção, dos pais e também da própria administração central da UERJ. Mesmo ainda sem ter uma data certa para terminar, essa vivência já vem provocando transformações positivas na vida de cada um deles. Desde 1999 atuando como docente da unidade, a atual diretora Maria Fátima de Souza Silva destaca o caráter histórico da ocupação e que a principal contribuição do movimento é o empoderamento dos estudantes. “O maior legado é isso. É se apropriar dos espaços da própria escola. É um envolvimento grande, uma responsabilidade diferente. É o cuidar da escola e também essa consciência desse espaço escolar”, analisou.

 

       Valeska Fresquet Kohan e Milena de Sá Martins são alunas do 3° ano do Ensino Médio e integram o comando de ocupação do CAp. Até pouco tempo, elas não tinham uma relação de proximidade, fato este que mudou após o início do movimento. “O que mais vale dessa ocupação é essa relação humana que você cria. Essas relações não vão acabar ao término da ocupação. Tenho certeza”, admitiu Valeska. “Eu sei que em nenhum outro lugar vou aprender tanto como na escola. Não é apenas ter uma base boa para a faculdade. É uma experiência do que eu sou hoje, diferente do que eu era antes da ocupação”, explicou Milena.

 

Negociações

 

      Em 25 de maio, a Comissão de Educação da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) promoveu uma audiência pública para discutir, coletivamente, possíveis soluções para os problemas que afetam o Instituto diante da crise financeira do Estado do Rio de Janeiro. No evento, a comunidade local pleiteou obras emergenciais de reforma e ampliação do atual prédio, a transferência futura para uma nova sede, a execução de projetos de acessibilidade, a construção de um restaurante universitário, o fornecimento de merenda escolar gratuita, o pagamento dos salários atrasados dos funcionários das empresas terceirizadas e dos professores substitutos, a retomada dos serviços de manutenção, limpeza e fornecimento de insumos, a ampliação do quadro docente efetivo, entre outros temas. Na ocasião, o presidente da Comissão, deputado Comte Bittencourt, anunciou que apresentaria ao presidente da Alerj uma proposta de doação de recursos financeiros do próprio legislativo para investimentos em infraestrutura física do CAp. 



Notícia publicada em: 08/07/2016