Sobre o Vestibular da UERJ


    Neste ano de 2016, a UERJ passa por uma grave crise. O Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão (CSEPE) discutiu a manutenção do calendário do vestibular, perguntando-se: nas condições atuais, podemos receber novos alunos? E deliberou por manter o calendário, considerando o compromisso da universidade com os 80 mil candidatos já inscritos e o imperativo de resistir à crise, ou seja, de não desistir de cumprir a função social da universidade.

 

  O momento por que passamos mostra a necessidade de conhecer melhor a universidade – por exemplo, de entender como funciona o vestibular da UERJ.

 

  Através do seu exame vestibular, a UERJ diz à sociedade que tipo de aluno ela espera e deseja. Além disso, o Vestibular da UERJ é particularmente importante para os candidatos da cidade e do Estado do Rio de Janeiro. Nosso principal termo de comparação é com o Exame Nacional do Ensino Médio, o ENEM. Por se tratar de um exame de cunho nacional, os melhores candidatos de todo o país buscam no ENEM o que consideram as melhores universidades, nas cidades que lhes ofereçam, depois da graduação, maiores oportunidades de trabalho.

 

   Ora, estas universidades se encontram nas cidades do Sudeste. Discutir o porquê dessa concentração exigiria outro artigo. Por ora, cabe constatar que o ENEM, independente de seus méritos como exame, tornou a competição mais acirrada: os candidatos do Rio de Janeiro não disputam apenas entre si, mas com os melhores candidatos do país inteiro. Essa circunstância aumenta a importância do Vestibular da UERJ para os candidatos fluminenses.

 

  Para além dessa importância estratégica, constatamos que o nosso modelo de seleção é muito bem sucedido. Acreditamos que isso aconteça porque o vestibular da UERJ: [1] amplia as chances de todos os candidatos; [2] os ajuda a estudar; [3] mostra para a sociedade e para as escolas a importância de uma avaliação bem feita; [4] pelo sistema de cotas, reforça o caráter inclusivo da UERJ; [5] enfatiza a importância da habilidade de leitura dos textos, das questões e, por extensão, do mundo.

 

  O vestibular da UERJ se realiza em três momentos diferentes: dois exames de qualificação e um exame discursivo. No vestibular para ingresso em 2017, os candidatos realizam os exames nos dias 12 de junho, 11 de setembro e 4 de dezembro de 2016.

 

   O candidato pode escolher fazer um ou os dois exames de qualificação – logo, ele tem duas chances para se qualificar para o exame discursivo. Cada exame de qualificação cobre quatro áreas do conhecimento. As questões, todas de múltipla escolha, pedem o conteúdo básico do ensino médio, sem cobrar o programa todo do terceiro ano.

 

    Os exames de qualificação funcionam como orientação de estudo para os candidatos e demais alunos do ensino médio. Nessa fase, não se escolhe o curso nem se opta pelo sistema de cotas. Se não acertar mais de 40% das questões em pelo menos um exame, o candidato não se qualifica para prestar o exame discursivo. Acima dessa porcentagem de acertos, ele recebe conceitos de A a D, que lhe permitem levar pontos de bonificação para o exame discursivo.

 

    Ao se inscrever no exame discursivo, o candidato escolhe a carreira e o curso que deseja. Na inscrição, ele também pode optar pelo sistema de cotas. O exame discursivo cobra, através de questões discursivas, habilidade de redação e conhecimento específico a cada área. Ele se compõe de três provas: uma prova de Língua Portuguesa Instrumental com Redação, para todos os cursos, e duas provas de disciplinas específicas, conforme escolha das faculdades e dos institutos da UERJ.

 

   Desde a sua fundação, em  1950, como UDF, a UERJ já mostrava seu caráter inclusivo, ao oferecer diversos cursos noturnos em um campus urbano. O sistema de cotas, que a UERJ implantou desde 2002 e é hoje regido pela Lei Estadual nº 5346/2008, ampliou esse caráter e tornou a nossa universidade a pioneira nacional em ações afirmativas.

 

    Para solicitar sua inserção nesse sistema, o candidato precisa antes de tudo comprovar efetiva carência econômica. Só depois ele se habilita a disputar os 45% de vagas destinadas aos seguintes grupos de cotas: [1] negros e indígenas (20%); [2] oriundos da rede pública de ensino (20%); [3] pessoas com deficiência e filhos de policiais civis e militares, de bombeiros militares, e de inspetores de segurança e administração penitenciária mortos em serviço (5%).

 

     O Vestibular 2016 ofereceu 5.751 vagas para a UERJ, além de 176 vagas para a UEZO e 50 vagas para a ABM D. Pedro II/CBMERJ. O Vestibular 2017 anunciará, no edital para o exame discursivo, um número de vagas próximo deste.

 

     No 1º exame de qualificação do vestibular estadual 2017, tivemos 80.248 candidatos inscritos. Esses candidatos fazem a prova no campus da UERJ e em mais 73 locais, espalhados por todo o Estado. O exame, em tantos locais, envolve milhares de profissionais que coordenam, transportam, limpam, organizam, fiscalizam, arrumam, iluminam e fazem a segurança de todas as provas e de todo o processo.

 

     Quando dizemos “milhares”, não exageramos. No dia do 1º exame de qualificação do Vestibular 2016, sem contar os funcionários do DSEA e os professores que elaboraram as provas, trabalharam 8.528 pessoas. Esse número diminui um pouco no 2º exame de qualificação, um pouco mais no exame discursivo, mas fica sempre na ordem dos milhares.

 

     Como na maioria dos concursos de massa, a taxa de inscrição, paga pelos candidatos, financia o exame. Para o Vestibular 2017, a taxa de inscrição tem o valor de R$ 60,00, para cada exame de qualificação, e de R$ 100,00, para o exame discursivo. O candidato sem condições de arcar com o custo das taxas solicita isenção, que, se concedida, vale para todos os exames do ano.

 

     O Departamento de Seleção Acadêmica – DSEA, órgão subordinado à Sub-Reitoria de Graduação da UERJ, é responsável pelo vestibular da instituição. O DSEA é composto pela Direção e por quatro coordenações: Acadêmica, Administrativa, Operacional e de Informática.

 

    Além do vestibular, o DSEA também organiza outros concursos de seleção, como para o Colégio de Aplicação da UERJ e para o PROF-HISTÓRIA (Mestrado Profissional de História).

 

    O DSEA se comunica com os candidatos e com as escolas através do site do Vestibular da UERJ e através da Revista Eletrônica do Vestibular. A principal publicação da Revista do Vestibular é o comentário detalhado das questões de todas as provas, preparado pelas próprias bancas elaboradoras.

 

    Desde 2012, o DSEA desenvolve o PROEM – Programa de Relacionamento com o Ensino Médio, que visita todas as escolas do município, tanto públicas quanto particulares, que manifestem interesse, para esclarecer como funciona a universidade, o seu vestibular e o sistema de cotas. Cada escola também pode acessar os dados do desempenho dos seus alunos em cada exame. Não fazemos, entretanto, nenhum tipo de ranking entre as escolas, por considerarmos essa prática prejudicial aos candidatos e a todo o processo.

 

     No decorrer do ano, formam-se diversas bancas de professores para elaborar as provas, num processo demorado e cuidadoso que passa por várias fases e muitos consultores. Todos os envolvidos assinam um compromisso de sigilo. As provas são lidas, relidas, reelaboradas e reescritas diversas vezes.

 

    Os exames medem a competência, as habilidades e o conhecimento do candidato, não sua esperteza ou capacidade de detectar armadilhas. A dificuldade das questões não reside na dificuldade de compreensão dos enunciados. Como exame de massa, avalia-se para melhor discriminar e assim selecionar os melhores, sim, mas também se avalia para melhor ensinar, porque todo instrumento de avaliação deve ser antes um instrumento de ensino.

 

     À época do exame discursivo são formadas as bancas de correção, que atuam sob supervisão direta dos professores que elaboraram as provas. São centenas de profissionais da própria universidade, assinando o mesmo compromisso de sigilo. Cada prova é corrigida por dois avaliadores diferentes. Se a diferença entre as notas deles for maior do que determinado percentual, os supervisores fazem uma terceira avaliação.

 

     A correção se realiza on line, isto é, cada avaliador lança suas notas direto num computador. As notas são processadas em tempo real, de modo a identificar melhor problemas e discrepâncias.

 

     À guisa de conclusão, lembramos que a prova da UERJ é chamada de “prova cidadã” por estabelecer o conteúdo básico que deve ser de conhecimento de todos os alunos do ensino médio em todas as regiões do Estado, quaisquer que sejam as suas escolas. Neste sentido, a prova cidadã é também uma prova democrática. Seu objetivo é que qualquer candidato que se dedique a estudar com afinco e, no dia da prova, se disponha a ler com atenção e cuidado todas as questões, seja capaz de resolvê-las, independentemente da condição social ou da escola em que estudou.

 

    Para o DSEA, e em consequência para a UERJ, a habilidade de leitura, tanto de enunciados quanto de textos, é a mais importante de todas, por ser pré-condição para a leitura e para a compreensão do mundo.

 

  

Professor Gustavo Bernardo Krause

Diretor do DSEA – UERJ

 



Notícia publicada em: 12/06/2016